sábado, abril 06, 2024

Cada qual em cada canto
canta o mesmo canto
a diferença
de cada crença
é mera semelhança.

A vida é a mesma
a chuva é a mesma
o solo o sol
são os mesmos
o que difere
fere

A sentelha inata
que nos desperta
que nos mata
repete em cada ser
a incompreensão do viver.

E qualquer diferença é mera semelhança.
Com os olhos
irados mirados
para mim disse:
te conheço desde sempre.
Dei dois passos
para trás confuso das idéias
e desapareceu repentinamente.

Acordei morto
no dia seguinte
com uma garrafa
de vodka na mão.
eu soube da minha
condição de alma
porque não enchergava
meu corpo.
Só sabia que estava ali
e nem sequer imaginava
como sabia.
A garrafa de vodka
me disseram depois
que era por causa do
apego demasiado
que eu tinha às
coisas terrenas,
mas eu me acostumei
e hoje ando
pelo mundo de minhas idéias
só com um copinho
de uísque.
Romper os grilhões da mente
Rebentar as correntes dos sermões
Levantar quando se está doente
E assaltar o bando de ladrões

Enxergar com a encilha a sua frente
Colher a semente dos leões
Entrar no mundo dos dementes
Concertando a espuma dos colchões

Recolher na chuva o pôr-do-sol
Lutar de cabeça baixa contra lua
Beber a água impura dos grandes lagos

Jogar de pés descalço futebol
Gritar gol no meio da rua
E festejar o dadá consciente dos gagos.

Busca

Deixei a barba crescer
e o cabelo também.
Esqueci a monogamia
do sol e sem pensar
admirava a promiscuidade
da lua...

Minha mãe perguntava,
Cadê meu filho?
E eu respondia,
Foi plantar milho.

Ela não entendia
a resposta e eu
tampouco a pergunta.
Mas comecei a fazer poesia:

Gostava das rimas ricas
com meus cabelos emaranhados,
contava a métrica
de cada verso
no meu quarto bagunçado,
compunha sonetos
nos cigarros apagados.

Todos olhavam com
tamanha surpresa
a minha estranheza.

Perguntavam uníssono,
Cadê o Tiago?
E eu respondia,
Foi pro diabo.

Ficavam todos estupefatos,
e eu na minha estreiteza
ia pro meu quarto
compor decassílabos
sáficos.

Firmei laços com
as traças das
prateleiras e gritando
nas ruas me abalei
sem eira nem beira.

Mas quando me olhei
no espelho exclamei,
O que é isso, um eco
respondeu, É falta
de juízo.

Então cortei o cabelo,
fiz a barba,
tomei um banho,
escovei os dentes,
queimei minha poesia
de concreto.

Deixei de plantar milho
e de fazer companhia
ao diabo num estalo:

Hoje em dia tenho uma namorada,
Tenho uma reputação a zelar,
Frequento toda sexta-feira um bar,
Mas bebo pouco pra pegar a estrada.

Creio em deus, na propriedade privada
E na moral que costumam pregar.
Sei que com dois posso fazer um par
E não preciso mais saber de nada.

Minha mãe me gosta assim desse jeito,
Se orgulha de me ver ser repetido,
E agora sou um homem de respeito.

E o que num tempo eu fui, foi esquecido:
Hoje eu uso gravata, eu uso terno,
Porque hoje em dia eu me faço moderno.

VIII

Vai mais um dia rápido como um relâmpago
E eu me vejo de novo tentando dormir
A vida vai passando e encurtando o porvir
Enquanto eu me sinto velho cá em meu âmago.

Mas sou jovem ainda, tenho dezenove
Anos! Por que me sinto velho de repente?
Um corte bestial se vai rasgando meu ventre.
A vida é um punhal que me apresenta à morte!

A morte diz: " Vou te levar para um lugar
Onde a jovem velhice se sinta bem.
Os dias passam e tu não vais te preocupar."

(Acordo num salto) Ouço vozes pelos cantos.
Os sussurros misturam-se atrozes aos meus prantos:
"Carpe Diem... Carpe Diem... Carpe Diem... Carpe Diem..."

domingo, junho 07, 2020

LVII

Um querer que me faz tão triste assim
Uma tristeza que é sempre tão leal
Que se esconde e se mostra e é sempre igual
E que sem consentir reside em mim

E que vai e que vem: volta mortal
E que dói como um não invés do sim
E me deixa saudoso com seu fim
Pois comigo se faz tão natural

E sozinho me vou sem ter ninguém
No caminho uma luz em tom de azul
Ilumina a passagem do meu bem

Que me aquece e me esquece por prazer
Quando o corpo gelado do meu ser
Sente à espinha os ventos vindos do sul

sexta-feira, março 13, 2020

Trauma

Tamanha foi sua dificuldade
com a língua portuguesa
no colégio, que quando
adulto não sabia o que
era crase, mas conhecia
muito bem os hiatos.
Foi assim por todo a sua vida:
hiatizando o que era para crasear.
Morreu só.
A felicidade do corpo
Da mão na nuca
Dos cabelos na mão
Do revés do não
Do rosto no rosto
Do rosto na pele
Do lábio no lábio
Do dente no lábio
Do lábio na língua
Da língua na língua
Da língua no corpo
Do corpo no corpo
Do corpo na mão
Da mão espalmada
Sobre o ventre dela.
A beleza
da tristeza
se fez nascer
quando a felicidade
por maldade
gestante da dor
gerou o amor.
Cercando a lua
estão meus olhos
lavados de escuridão
atravessando nuvens
quebrando ventos
acordando as estrelas
que sonham distância
espantando os cometas
que vencem os séculos
Estão meus olhos
cercando a lua
implorando altura
num sentimento de posse
que o amor nos implica

E a lua - serena, calma
que não rejeita um amante sequer
me olha com seu grande
olhar de compaixão
e lacrimejando sua luz
sobre minha paisagem, diz:
-Hoje dormirei contigo.

Devaneio cotidiano

Por tantos sacrifícios cheguei aqui,
tantas guerras e revoluções,
tanta morte e tanta vida jogadas
mundo a fora - tudo vão.
Tudo:
O que eu não sei, o que ninguém sabe,
O que fingimos saber:
O que poderá se fazer?
Os minúsculos componentes da matéria.
Cada simples célula do meu corpo.
A infinitude do universo.
Há vida lá fora?
Há vida?
O sol ofusca meus olhos.
O azul do céu esbranquiçado
pelas nuvens deslumbra-os.
Mas ao voltar, vejo-me novamente
insignificante, burro e mesquinho
perante tudo.

Num mundo parelelo, o cigarro vai deixando
uma cinza cilindrica no cinzeiro
e a fumaça vai lentamente
se esvaindo no espaço.
Escondi tudo de mais
valioso que eu tinha
numa caixa de papelão
na parte mais alta
do armário mais alto
que tinha lá em casa

Todos passavam e
olhavam-na indiferente,
somente eu a fitava
orgulhoso por ser
o único que sabia
o que ela significava

O tempo passou e eu a
esqueci e a deixei ser
engolida pelas teias de
aranha e pelas traças

Um dia desses, curioso,
me dei o trabalho
de pegá-la e limpá-la
quase desmanchando
em minhas mãos:
Abri-a com cuidado:
chorei

XLIII

Eu não soube o que pensar... olhei-o...
Tinha muita fome e estava com frio,
No rosto alguma vertente de um rio
Que de tanto chover estava feio.

Talvez trouxesse algum amor no seio,
Talvez no peito ele tivesse um brio,
Ou talvez fosse só mágoa, sangue e ódio
E fosse de infinitas dores cheio.

Tinha dois companheiros de desgraça:
Era um cusco véio e uma cachaça:
O cusco amenizava a solidão,

A cachaça a fome, o frio e o tormento...
Aproximei-me devagar, atento...
E ele sussurrou: Prazer, sou João.

L

A lua alta cobrindo o firmamento;
O vento testemunha do meu pranto
E um manto estrelado num momento
Sente comigo o mesmo desencanto.

A madrugada fria, o tempo lento;
Meu sofrimento canta um triste canto
De quanto choro, dor e desalento
Que só sabe cantar quem chorou tanto.

E quando busco a causa disso tudo
Fico mudo e não sei o que em mim vejo:
Eu sobejo em mentiras e me iludo.

Estudo não saber o que desejo;
Calado arquejo - Penso o infinito:
Esse vazio imenso que em mim grito.

domingo, julho 12, 2015

A primeira lágrima
Brilhou nos olhos
Repentinamente,
Ofuscando a visão.
Não se encontra
Força para enxugá-la
E ela traça livre
O próprio caminho
Por entres as rugas
Do rosto franzido:

Não há razão nos sentidos:
Silêncio...
Silêncio e mais nada.
A lágrima chora deixando
Marca de amor
Na pele tocada e
Um rastro lúgubre
de lágrima
Rolada.

Ela acaricia o rosto
Com sofreguidão.
Beija a boca
Demoradamente.
Perde-se na vertigem
Daquela tristeza,
Traçando seu caminho
De lágrima solitária...

Chegando ao fim,
Agarra-se em desespero
Aos poros
Daquele rosto
Que lavou!
Apaixonada, sente
A morte iminente -
A morte iminente
De lágrima
Rolada -

Saudade dos olhos!
Saudade do beijo!
Saudade da pele
Que acariciou!

O rosto também a segura
Fortemente pelos átomos,
Enquanto lá em cima
Brilham lágrimas
Que não ofuscam...

Ela cai.
Tanto esforço vão.
Lá vai ela cumprir,
Abandonada,
O seu destino infeliz
de lágrima
Rolada.

Morrendo sobre o peito
Que lhe deu a vida.

Composição

Procuro no escuro
tudo o que é
e que seja:
que sempre foi

tateio no vento
as palavras
que não aprendi
a dizer

e quando perco
minhas forças
o corpo pende
os braços caem

e tudo o que
sempre foi
não é, nem será,
apenas está

e as palavras
que não aprendi
a dizer são
as únicas que existem

a poesia se esconde,
o sentimento não
sabe gritar
sua liberdade

o escuro torna-se
cada vez mais
escuro e escuro
e uma lágrima cai:

uma lágrima é a prova
da mudez da tristeza
e o silêncio, sim, sempre
foi, é e também será.
Morreu meu avô.
Velho e abatido.
Morreu aos 69 anos:
Culpa do cigarro.

Morreu de um câncer
Na garganta que o
Levou em pouco mais
De seis meses.

Lembrei disso por
Estar com um
Cigarro na mão agora,

No qual, esporadicamente,
Dou uma tragada:
Como é bom o morrer!
Meu coração tem amores
que nem eu conheço
tem tantos segredos
queimando flores
tem desconhecidos horrores
que me enchem de medos
Meu coração tem dores
que nem eu sinto
tem cores
de vinho tinto
banhando com seu vermelho
o espelho
do meu sonho lindo
Meu coração de tanto sentir
sem saber que se sente
acabou indiferente
ao porvir:
de tanto mentir
sem saber que mente.
Em cada passo
que vai trilhando
o caminho que faço.
Sinto que passo.

E o meu luto
do tempo que morre
é cada minuto.
E eu não luto.

E permaneço mudo
sempre querendo
mudar tudo.
E nunca mudo.

Eu sinto que passo.
Mas não luto.
Mas não mudo.
Se é partido que se vai
Se é perdido que se vem
Como entrar nesse trem,
Pai?

Como a vida desse lírio
É bonito que se vem
Ressequido que se vai,
Filho.

Como a pergunta que se faz
A resposta que se tem
A morte se desfaz.

Se é sabido que se vai
Desconhecido por que se vem
Por que lutar também,
Pai?

Para que esse estribilho
Que na vida canta e voa
Ressoe em outros corações,
Filho.

Respira essa paisagem

porque quando perceberes

que estás de passagem

será tarde para teres

essa aragem

a teu dispor.



Respira com a dor

de despedi-la em breve

porque é leve

a tua vida.

Ligando os pontinhos um a um
Eu faço nas estrelas
O rosto dela
Costurado em alto relevo:

A lua se torna irrelevante.

XIX

Pássaros cantando canto de horror?
Eu os escuto, eles estão com medo.
Sim!... alguém descobriu-lhes o segredo
De não saberem mais cantar amor.

Agora, voa torto o beija-flor
De flor em flor não sabe mais voar
Parece que não mais sabe amar
E que de súbito encheu-se de dor...

O quero-quero não cuida seu ninho,
Nem o joão de barro da construção,
Nem mesmo a coruja da noite escura,

O pavão perdeu sua formosura,
E a garganta do rouxinol então
Foi atravessada por um espinho...

quinta-feira, junho 18, 2015

Será?
Uma pergunta que
frusta esperanças.
Quando estou quase
certo ela rasga
meu pensamento.

Maldito futuro
do verbo ser!
Quando é que
tu será presente
sem interrogação?

Enquanto isso
eu sigo aqui
sem definição.

domingo, agosto 10, 2014

Eu trago uma espada
cravada no coração
e nela eu encontro
o meu perdão

Quando faço do meu passo
o caminho para a imprecisão.
Há gritos, há gemidos,
há uivos de desconhecidos.
Irmão.

O sangue que escorre
do peso da minha armadura dura
dura no coração
E a minha espada trilha
o caminho da imprecisão.

quinta-feira, julho 31, 2014

Epitáfio de um exilado

Voltou ao estado do qual
nunca deveria
ter saído.

quinta-feira, agosto 18, 2011

É com sol que se faz o dia,
não com essa letargia
que me deixa mole
e o tempo engole a vida que há em mim
e não há saída nem verdade
além desse fim de tarde
que se apresenta como um Deus.

domingo, fevereiro 22, 2009

Deixa tua vida sedenta
de poesia que um dia a vida
se rebela contra ti.

Daí então, não haverá
lirismo que te salve
da destruição.

sexta-feira, julho 04, 2008

É tão simples e tão pura
que nasce sem força
como nasce o dia,
como o orvalho se
aconchega na flor.
Se apodera de uma folha em branco,
de um coração em pranto,
de uma vida vazia.
Converte-se no mais temido pecado,
no mais aliviável vômito
que ajuda a viver.
Auxilia sem pedir nada em troca,
a angústia de não ter respostas.
E na sua espera de palavra,
anseia por surpreender
o mais desatento visitante.
Sopra no meu rosto
a tua brisa
para que eu sinta
num sentido o teu gosto

Para que lembre da tua força
de me amar desmedida
de sentar no meu colo
e dizer, Sou tua vida

E de me esquecer num instante
e de me morrer em menos
tantos laços rompidos
e tão lascivos antes

E desromper para romper
e novamente ser perfeito
para chegar é que se parte
e se sente saudade sem fim

Mas se sopra no meu rosto
a brisa do teu corpo
eu lembro e sinto
num sentido o teu gosto.

quinta-feira, junho 19, 2008

Quando do meu corpo eu levantar,
quero ser estrela, lua e mar.
Quero ser estrela, lua e mar.

E não chegarei de mansinho,
antes deconcertando os caminhos,
trilhando rotas que levem ao infinito,
levando o que habita pacificamente as areias da praia
com uma força violenta para águas em tormenta,
e surpreender o amor dos animais marinhos
e amar o meu céu no horizonte
quando o sol aparecer...

Quando do meu corpo eu levantar...

segunda-feira, maio 19, 2008

Neblina das minhas verdades,
me conta se é por maldade
que me fazes triste assim.

Canção da mocidade,
me conta se cantar a felicidade
é um crime sem perdão.

Porque meu coração
quer as asas de um querubim
para morar no mais alto esconderijo
que encontraste para mim.

Segredo da minha carne,
me conta se morrer
é tão ruim assim

me conta se é pecado
o silêncio dos momentos
encontrar meu corpo são.

Porque meu coração
quer as asas de um querubim
para morar no mais alto esconderijo
que encontraste para mim.

Vozes da minha alma,
contem-me se a loucura
é saudade de outro mundo

contem-me se vossa clausura
é pura sensatez
ou mera covardia

Porque meu coração
quer as asas de um querubim
para morar no mais alto esconderijo
que encontraste para mim.
Todo dia nasce o sol
E levanta do outro lado a lua
Todo dia alguém pisa num caracol
E não é culpa minha nem tua

Todo dia tudo acontece
Igualzinho como foi no anterior
Todo dia nasce um novo amor
Que no outro dia a gente esquece

Todo o dia bem ou mal
O relógio bate na hora marcada
Todo o dia é a mesma estrada
Sem placa, sem praça, sem sinal.

Todo dia é um dia diferente:
Eu é que sou indiferente.

sábado, abril 26, 2008

Conversa comigo, meu amigo
conta-me das contradições
do teu pensamento elevado.
Não seja arrogante em dizer
que não as tem.
Não seja modesto em dizer
que não o tem.
Eu sei muito bem quem és.
Onde estás.
Como se fosse minha própria aflição.

Meu irmão, quantas angústias
já tivemos juntas.
Quantas lágrimas já não nos rolaram juntas.
Quantas palavras jogadas ao ar
já não nos saíram juntas.
E as risadas.
Os palavrões.
Os sermões.
As injúrias.
As blasfêmias.
As fêmeas.
Juntas.

Não há de ser na hora da morte
que me vais esconder teu pensamento.
Não há de ser na hora da morte
que eu terei que enfrentar o escuro
sozinho:
Me conta agora das tuas contradições
para que eu posso enfrentar as minhas.

quarta-feira, abril 09, 2008

Que culpa tenho eu
de sentir e
saber que o porvir
não revela muito do que
poderia ter sido
e as possibilidades
se perdem no desconhecido.
É agora que eu mudo.
É agora que eu sinto.
Não será num ontem
Nem num amanhã,
e tudo parece tão errado
tão fora do enredo
tão sem contexto
como se descobrisse
que o curso natural
dos acontecimentos
nunca fora tão natural assim.
Mas que culpa tenho eu
de querer e
pasmar ao ver
cada linha do teu rosto
cada nuança dos teus olhos
cada timidez no teu sorriso
que culpa tenho eu?
que culpa?

terça-feira, março 18, 2008

Quantas vezes a ti mesmo negaste
na angústia de caminhar em vão?
Quantas vezes a esmo caminhaste
com teu companheiro a te negar um pão?

Tuas botas sem meia, teus panos em traste,
tua boca sedenta de uma oração.
A ave-maria aparece covarde
no pulso ferido do teu irmão.

Revoltas revolto nos teus espelhos
os olhos latentes mirados pro chão.
Tua força não leva mais o signo vermelho,
nem martelo nem foice o teu brasão.

O sonho perdido não tem cor.
A juventude derrotada não tem símbolo.
Não tem estandarte o fim do amor.
Não tem nome o que jaz no limbo.

domingo, março 02, 2008

Venha, senta no meu colo
Deita a cabeça em meu ombro
Faça de mim o teu solo
Quando tudo for escombro

Segura em minha mão forte
Pois tu não estás sozinho
Faça de mim teu caminho
Quando não mais houver norte

Chora sobre o meu lençol
Na tristeza e na alegria
E faça de mim teu dia
Quando não mais houver sol.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Nasceu uma bela flor
num jardim habitado
pelas sombras e pelo frio.

Morreu o amor
no momento exato
que lhe foi dado o brio.

Nasceu robusta, forte
com seu pungente espinho
eriçado para frente.

Nasceu trazendo a morte
de quem sempre
viveu descrente.

Hoje ela vive altiva
na escuridão ostenta
o seu descampado.

E enquanto estiver viva
seu espinho castigará
o coração dos enamorados.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

XIX

Quando pensei que já era tarde,
Tu apareceu trazendo um novo dia,
Enchendo de calor minha noite fria,
Tornando orgulhoso o que era covarde.

Com olhos puros, sem fazer alarde,
Lânguido coração que em mim sofria
Ensimesmado em sua melancolia,
Transformou no coração que em mim arde.

E eu que sempre amei luas e estrelas
Porque acreditava na solidão
Dos astros, agora abro as janelas

E percebo que o espaço está em chamas,
Transbordando sedento de paixão.
Por saber, meu amor, que tu me amas.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Caminho em direção
ao nada do que sou
do que tu é.
Repasso quando chega
a noite, o nada
do que é o dia.
Preencho essa ausência
com a melancolia
que nos é bem comum.
Mas não paro nunca,
com a cabeça erguida
sigo em frente.
Mesmo sem saber
por que estar
por que lutar
por que vencer
por que ser
mesmo sem saber.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Banha com o perfume
do teu sangue
o gume
da minha faca
e me abraça forte
antes que a morte
o faça.

sábado, janeiro 05, 2008

Quando pensei na morte
pela primeira vez,
me recolhi a um canto
da minha velha casa
com os bonecos que eu
mais gostava de brincar
e me entristeci por um momento:
a partir de então,
meus vilões e meus heróis
morriam nas batalhas e
os derrotados eram jogados
para dentro do boeiro
da esquina e ali
eram esquecidos.

Mas agora
não tenho mais brinquedos,
hoje quem perde as batalhas sou eu,
eu é que não tenho mundo:
onde vou me jogar?
A janela aberta
não ilumina com seu dia
a parede de tijolos a vista
da velha casa da esquina

Ninguém aparece a tempos
e ninguém aparecerá
a casa estará para sempre
da maneira que está

Aquele grito que continha
o sorriso que testemunhou
os amores que segredou
deixaram-na sozinha

Agora somente um fantasma a habita
sem rosto, sem cor, sem nome,
sem sede, sem frio, sem fome:
escuramente povoada pela
esperança de vida.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Quero conquistar-te
todos os dias
amar-te agora e
renovar o amor a casa instante
e receber a inevitável dor
como a fiel precursora
da alegria

E então quero
encantado em teu sabor
sem cansaço e sem suor
e sem elegia
pintar-te dentro
de mim em poesia
fazendo do teu sorriso
toda a cor e
nuança da arte

Para quando me sentir
sem chão sem pátria
sem mundo
para quando meu coração
esvaziar-se de repente
sem razão
eu possa te ver te sentir
e te querer em toda parte
e ostentar teu amor
como estandarte

quarta-feira, janeiro 02, 2008

E em cada pedra que chutava, ao acaso, pelo simples fato de estar distraído com os pensamentos, sentia como se chutasse as estrelas que do céu tivessem caído. Chutava e reorganizava as
constelações uma a uma: Olha! gritava ele bem alto para todo mundo ouvir, Essa aqui se parece com o rosto dela! E então se alegrava e pulava e beijava a lua nos paralelepípedos de pedra.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Em meu poder tenho o nada
e o nada faz parte e reparte a vida e a morte
possuo tudo o que vejo e que não vejo
possuo o que não pode ser sentido
e também o que não tem sentido
o silêncio calado surdo e mudo
do tumulto das vozes que não conheço
o desejo corrosivo da minha voz que não entendo
ou entendo mas fraco não obedeço

O poema não escrito e mal escrito
as palavras jogadas no ar
o escrito não descrito indiscreto
e do grito possuo aquele horror
que sai e tranca e afoga e chora
inefável expressão do nada do agora
na minha carne a decisão protelada
do mas do porém e do embora
das dúvidas marcadas nas traças
nos traços do meu rosto
da vontade inata daquele sim
da morte exata do que me mata

Possuo o antes o amanhã e o talvez
o hoje o ontem e o nunca mais
o sempre do tempo que infinito
passa na minha frente como um mito
e acreditar que não se acredita no que dói
então possuo um mundo mais bonito
de sabores e flores e amores
sem afagos e laços de apressores
o pernóstico pernicioso de um amigo
quem sabe como a segurança de um abrigo

Possuo toda tarde um pôr-do-sol
com nuvem sem nuvem com arrebol
uma cidade que está cravada em mim
ou sem mim ou enfim cravada está
possuo o que quero e o que não quero
o que espero que seja e não será
um amor que divide a vida inteira
a família que unida canta sempre
com o tom sem o tom mas sempre dança

E de tudo possuo e nada tenho
do que sei desse mundo do que leio
e tudo se acaba na morte que ainda não veio
mas veio virá e constante está vinda
num instante está e escurece o que era sol
e o tudo que tenho vai levando
levando eu possuindo e sendo
querendo que tudo seja meu
e enquanto não chega o juízo final
e a escuridão não esteja dentro em mim
e o azul do céu não seja caos
eu caminho e corro e sangro e vou
sempre possuindo o que não se sabe.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Bilhete

Nos cacos de vidro
do copo de cerveja
estilhaçado no chão,
vi eu - vi tu:
aqueles cacos um dia
foram um só corpo.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Quando ele chegava mansinho - bonito, cheiroso e de muito boa retidão vertebral, querendo chamar sua atenção a torto e a direito, ela dizia indiferente, Não te quero. Então ele, desgostoso que havia ficado por tanta injustiça e rejeição, deixou sua aparência a cargo do tempo. Dali com um passar de meses, foi ter com a moça novamente. Dessa vez apresentando-se o exato oposto a seus primeiros contatos. Ela olhando-o de longe, vindo em sua direção, assustou-se com tão inesperada cena. Quando ele se chegou suficientemente perto, ela sem esperar qualquer palavra que porventura pudesse ser pronunciada por aquela boca fétida, abriu sua bolsa e com um olhar de compaixão ofereceu-lhe um sanduiche com margarina, queijo e mortadela feito por sua mãe. Ele sorriu.

terça-feira, novembro 20, 2007

LVI

Me sinto bem feliz ensimesmado.
A minha volta, tudo só se faz,
E nesse pensamento e nessa paz,
Teço o dia, a vida, o passado:

Tenho o que foi, tenho o que vem, um fado -
E tudo daquele sonho que jaz
Junto a tudo que ficou pra trás
E que, triste, não foi realizado.

Tenho no fundo uma saudade imensa
Que não se mostra na expressão da face.
Dentro de mim um novo ser que nasce

A cada pôr-do-sol - cada manhã:
E tenho (agora) mais uma hora vã
A pensar o que todo mundo pensa.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Moto-contínuo

Viro a face e torno-me
a bater ainda mais forte.
Os dentes quebram.
Os lábios sangram.
A boca grita.
A cabeça dói.

Um loucura acesa
no meio da noite
e não se tem pra onde ir:
as portas estão fechadas.
não se tem com quem conversar:
estão todos mortos.

A presença comigo mesmo
é obrigatória dia e noite e
sempre mais inóspita.
Não há pensamento bom,
nem palavra que alivie
o iminente suicídio da vida.

Um suicídio lento, doloroso,
uma agonia que faz sentir
que realmente se está vivo
e tudo não é uma simples
brincadeira de mau gosto.

E quando a dor passar
e a vida estiver imersa
no silêncio das coisas que
não existem, eu viro a face
e torno-me a bater
ainda mais forte.

LV

O que será que ela leva na boca,
Na pele? que encanto traz nos cabelos
Que prende e arrasta meus olhos ao vê-los?
Que paixão é essa que ferve louca?

O que será que ela tem que me rouba
Todos os pensamentos e quer tê-los
Somente dela e ao enlouquecê-los
Me morde e rasga com dentes de loba?

De onde vem ela assim de repente
que desnorteia o caminho sabido?
Me leva lasciva onde minha retina

Jamais ousara pousar sua lente,
E faz febre o que frio teria sido,
Sendo quente até mesmo no nome: Kétina.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Meus piolhos
sugam poesia
dos raros oásis
que ainda existem
minhas lombrigas
respiram poesia
e todos os dias
morre alguma por
insuficiência respiratória
minhas frieiras
comem poesia
e eu as alimento
mal e porcamente

Como poderei manter
minhas podridões
se eu só escrevo merda?

quarta-feira, outubro 03, 2007

LIII

Busco o amor que ame sem explicação.
Apenas ame, sem mais nem por que...
E que saiba num só olhar dizer
O que não sabe dizer a razão.

Que de repente faça o coração
Congelado queimar-se todo em brasa
E que faça da brasa uma paixão
Que sem precisar alarmar arrasa...

E que não seja imposto pela atitude
Que planeja em detalhes o futuro
(um plano sempre é feito de ilusão)

Busco o amor imenso na quietude;
O amor que se esconde atrás do muro;
O amor que ame sem explicação...

quarta-feira, setembro 26, 2007

Devaneio céus e
estrelas num
surto de raios
e relâmpagos infernais

O que me faz
respirar dia e noite
é a vontade de
não querer mais

A natureza dá
seu espetáculo
sem perguntar
minha opinião

A tempestade continua
e eu não posso dizer não.

terça-feira, setembro 25, 2007

Não foi num dia alegre
que te descobri, poesia,
nem mesmo foi cantando
amor; não foi num
dia repleto de cor,
poesia, a primeira
vez que te senti.

Foi andando na rua
de tristeza em tristeza;
foi de calos inchados
e de profundas olheiras;
foi no dia que o universo
chorava mais uma vez
a dor de tudo o que existe
que eu triste te constatei:

Vou fazer, poesia, poesia
dos escombros do mundo.

sábado, setembro 22, 2007

Suicídio da semana que vem

Os olhos arregalados
sem saber para
onde olhar
se desviassem para
aqui ou para ali
pra lá ou pra cá
o lugar não saia
da retina
o lugar não saia
do lugar.

E mesmo se visse
adolescentes cheirando
cocaína, sorria
como se fosse
uma piada de rotina
olhos arregalados
todo lugar é o
mesmo lugar.

Correria de polícia
mortos nas esquinas
minha mãe transa
com o vizinho
meu pai bate
na minha mãe
o amor
o amor
compensa tudo
eu sou gay
ninguém sabe:

olhos arregalados
todo lugar
é poesia.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Contanto que não me exceda em desaforos pode ser. Minha mãe é bonita mas é legal, sabe bem como apreciar um vinho. Dá pra fazer um encontro e uma orgia daquelas. Já até convidei Satanás pra festa, ele disse que iria torturar umas almas e tentar dissuadir alguns anjos. Com essas criaturas vindas de lá é sempre brabo de se lidar. Satanás é bem esperto mas ele cansa, sabe como é que é né, trabalhar no inferno não é fácil. Ainda mais com a quantidade de almas entrando todos os dias. Ouvi dizer que meu pai já está até removendo alguns itens da lei universal do pecado, parece que ser prostituta já não é mais tão pecado assim. Fruto da merda que eu fiz quando estive na terra, ruim pra nós. Tenho certeza que Satanás dará um jeitinho de sair e beber um vinho conosco, ele não resiste a um sabor diferente. Imagina ficar bebendo sangue e sangue e sangue todos os dias. Só de pensar me dá enjôo.
Agora se aquela pomba vier dizendo com aquela cara de esperma envelhecido que minha mãe é uma santa obra de Deus eu vou mandar ela pros quintos. Minha mãe é uma criatura íntegra, digna dos mais escuros recônditos infernais. Ela tem aquela cara de santa tu sabe por quê, ela tem que enganar direitinho o dito todo poderoso, de outra maneira como a gente iria conseguir ter o controle das ações dele. Eu também me coloco esses olhos azuis para esconder os meus vermelhos, eu tenho essa barba pra esconder meus caninos, eu fui à terra, fiz um teatro e agora ele é orgulhoso de mim.
Estou começando a desconfiar que aquela pomba quer dar pro meu pai e não sabe como, então fica ai inventando injúrias contra minha mãe. Um dia desses eu faço ela passar uma eternidade inteirinha aqui, sem nenhum remorso. Aí veremos se ela vai ficar fazendo calúnias depois de todo o tédio e calmaria, depois de ouvir as canções nauseantes dos Querubins e ficar vendo os dentes dos sorrisos simpáticos sólidos como concreto dos habitantes daqui.
Enfim, espero que minha mãe, a "virgem santíssima", não tenha problema nenhum por aí e que sua recepção seja digna da criatura que é.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Passa Tempo Passa

Lembro e não há
nesse mundo nada
mais triste do que lembrar.
O que fomos, quem
costumávamos ser,
o que pensamos, que
costumávamos pensar,
tudo fica pra trás.
Dizemos que evoluimos
como se fizesse
alguma diferença.
No fim somos o que
sempre fomos
e ninguém pode nos salvar:
Lembro e não há
nesse mundo nada
mais triste do que lembrar:
Estamos perdidos
e o tempo não sai
do mesmo lugar...

segunda-feira, setembro 03, 2007

De veias se fez
de sangue e de asco
o velho carrasco
que um dia
amou tanto.

Pois sem ter ninguém
que enxugasse
seu pranto
pensou no seu fim
e num momento
de desespero
arrancou
seu próprio
coração
assim.

De sangue e de asco
o velho carrasco
que um dia
amou tanto.

Agora
sem coração mas
de rosto sereno
cantava canções
de amor sem sentir.

O velho carrasco
que um dia
amou tanto
por desencanto
até sua morte
arrancou corações
por aí.
Arrisca-se ao nascer
cada indivíduo
cada ser
à vida

e assim:
Cresce-se
Conhece-se?
Amasse?
Sofre-se
Morre-se
Por quê?

Um eco ressoa,
ressoa, ressoa,
sem morrer.

sábado, setembro 01, 2007

Casulo

Eu tenho medo

Medo de respirar
a luz das estrelas
de ofuscar meus olhos
com a luz do sol

Medo de me apaixonar
pela distância da lua
de me encontrar
perdido na noite

Eu tenho medo
muito medo

sexta-feira, agosto 31, 2007

Fazer a diferença?
Que é a diferença que
se faça se por aqui
tudo beira a desgraça?

Manter viva uma crença?
Que é crença que
se tenha se por aqui
tudo termina em nada?

Sentir de tudo o prazer
sem deus e sem futuro.
Viver como se fosse
uma grande mentira.

Porque tudo por aqui
tudo beira a desgraça
tudo por aqui tudo
tudo termina em nada.
Espero do cadáver que
hei de ser que tenha
a fisionomia de quem
sonha um sonho bom,
que seja frio mas de olhos
serenos e que o som
das lamúrias seja
transformado em canção
de ninar no eco
do seu infinito silêncio.

quarta-feira, agosto 29, 2007

A vida é um cachorro
tentando morder
o próprio rabo.
Viva a poesia
mas não a esquiva
a do dia-a-dia
a poesia viva!

Não ao que seria
a poesia altiva
puramente fria
com sua forma criva!

Não ao neo-parnaso
que brocha o sentido
por ser erudito!

Sinta o fato raso
o sígno límpido
sem suor, sem rito!

terça-feira, agosto 28, 2007

Gozar a solidão
em todos os sentidos
derramar em verso a
tristeza contida nos poros

E depois da infelicidade,
como a noite vira dia,
queimar no peito forte
um amor esquecido

Uivar a eternidade
para uma noiva morta
querendo conhecer
o que está encerrado

Não se ter a quem amar
ser sedento de feridas
as cicatrizes no meu rosto
são mais belas que um sorriso

Ao gozar a solidão
em todos os sentidos
e derramar em versos a
tristeza contido nos poros
Olhos rasos dágua:
O silêncio dos grilos
ensurdece a madrugada.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Queria que fosse
nós: tu e eu,
e que tivéssemos o apogeu
do que sentia.

Queria do que
foi verdadeiro
ser o cinzeiro
da minha parte fria.

Queria que
fosse esvaecido
o tempo perdido
da noite pro dia.

Queria que jamais
houvesse o que seria.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Invadem-se os mares,
também as fronteiras!
Caem-se os altares
e o pudor das freiras!

Esguicha-se o sangue
contido nas veias!
Abrem-se as cabeças
cobertas de teias!

Quebram-se as correntes
do mais forte aço!
Descalam-se as vozes
e ganham o espaço!

Os velhos algozes
não deixaram rastro.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Desconexo

Corro do tempo como
quem corresse da vida.
E a vida não me tem
razão que a sustente.

Se ainda fosse eu crente
poderia levantar as mãos
aos céus e dar glórias
a deus - mas isso me soa
muito mais como uma
velha despedida.

Caminho e me apresso
em conjunto, paro
no sinal vermelho
e atravesso as avenidas
na faixa de segurança
com o nó diário
cego na garganta
e sem ter onde depositar
minhas esperanças.

O dia vem recheado
de cores vivas com
suas nuanças refletindo
tão tristes nos meus olhos.

Meu olhar caído:
Naquela esquina teria
um castelo medieval
não fora a modernidade.

A menina de olhos claros
olha atentamente por
de trás das grades...
Grades com cerca elétrica.
Nem os passarinhos
arriscam seu canto
nas suas janelas na
manhã amarelada.
O dia seria lindo não
houvesse tanto medo.

Alguns quarteirões
a mais ou bem a menos
vê-se uma casa de
chão batido e úmido.
Seria um rio de águas
abundantes e límpidas
não fora o cheiro
acusando um esgoto
a céu aberto.
Os passarinhos cantam
nas janelas na manhã
sofrida e calada.
Cachorros latem, brigam
por uma cadela no cio.
Homens gritam, matam
por uma fêmea qualquer.
A orquestra da fome
faz seu show em todos
os tetos sem cobrar ingresso.
O dia seria lindo
não houvesse tanta miséria.

Então penso em comprar
um livro de auto-ajuda
para ver se me encontro.

Dizem que tenho que
traçar uma meta,
um caminho a ser
trilhado e superado.
Mas eu nunca sei onde
estou e o que fazer.
Só sei que ando
vivendo, indo.

Nada me é passado.
Nada me é futuro.
Só sei que tudo
me é gerúndio
e que amar não se conjuga.
Só sei que corro,
corro, corro, corro...

Corro do tempo como
quem corresse da vida
e a vida não me tem
razão que a sustente.

sexta-feira, julho 20, 2007

IL

"Corei de vergonha e de indignação:
Diabo de gente que fica na porta
Da padaria onde eu vou comprar pão,
Chorando moeda com cara de morta.

"Tem qualquer moedinha não me importa
O valor, tenho fome de leão."
Sabe, esse tipo de coisa me corta
De sobremaneira o meu coração.

Mas o que tenho eu com a desgraça alheia?
A gente apenas colhe o que semeia
É o que minha mãe sempre dizia."

Vinha desse jeito minha vó contando
Anelante e deveras triste quando
Chegara em casa no final do dia.

XLVIII

Morri. Encontrei o fim desta lida.
Sou pó, sou cinza, sou vento, sou nada,
Sou uma reles carta descartada
Do baralho intangível dessa vida.

Sou a ruína sempre incompreendida
Longe do corpo que me deu morada,
Sou a eterna vida rotulada
Na eternidade do vácuo esvaecida.

Sou todo o silêncio da escuridão
Que ressoa da morte do universo
Que outrora me deu da vida a centelha,

Sou a parte cabal dessa união:
Do grande nada a que estamos imerso,
Da infinita cala que nos espelha.

quinta-feira, junho 28, 2007

XLII

O amor que por ti sinto
Não é um jardim florescendo,
Não é um dia amanhecendo,
Nem mesmo é um luar lindo!

Tudo o que sinto é maior
Do que a própria natureza
Tem mais candura e beleza
E tem muito mais sabor!

Porque o jardim emurchece,
O dia sempre amanhece
Torna-se sol o luar!

Meu amor é mais bonito,
Meu amar é mais amar,
Meu amor é infinito!

terça-feira, junho 26, 2007

XLI

Amar... Simples amar e ser amado
E se ter amor para além dos céus;
Amar de lábios e olhos ateus...
Amor humano... Amor compartilhado...

Amar deveras... Sem ser rotulado
Todo amor que tenho aos cabelos teus...
Amar sem consentimento de deus...
Amor somente... Longe do pecado...

Porque se deus nos deu o coração
Não foi para nada senão amar!
Nos fez na boca lábios para o beijo!

Por que razão nos faria atração?
Nos faria corpo para pecar
Se nos fez homem e mulher pro desejo?

quinta-feira, junho 21, 2007

XXXVII

O sol nasce laranja por de trás
De nuvens que vão raiando amarelas
E banhando com sua luz os plátanos
Que ofuscam os olhos cor de mel.

Sustenta a prole dos jacarandás
De minha terra com suas aquarelas
De cores vivas e mortas... Sons diáfanos
De luzes e amores rasgam o céu.

Impera lá do espaço poderoso,
Tão-longe-tão-perto num só momento...
Em raios, tudo em sua volta gira...

Nesse despontar da manhã ostentoso;
Rindo da vida, zombando do tempo,
Copioso da infinita luz que aspira.

sexta-feira, junho 15, 2007

XXXIII

Sozinho. Ele profundamente triste
Tristemente mira mudo as estrelas
Ensaia suspiros tentando entendê-las,
Loucamente entendê-las ele insiste.

Para ele não existe astrologia,
Nem conhece as constelações mais belas,
Ele apenas deseja estar entre elas
Entre elas esquecer-se noite e dia.

Ele viaja... Ele sente uma a uma;
Ele assim se perde no pensamento
Sobre elas, e nada mais existe.

Então acende um cigarro... Ele fuma...
Ele chega esquecer por um momento
Que até o momento ele fora triste.

terça-feira, junho 12, 2007

Não sou o que diz,
Desenrola e tem
Fala desenvolta,
Nem meus pensamentos
Eu tenho na ponta
Da língua, nem frases
Fluem levemente
Pela minha boca.
Eu sou o que cala,
Afasta, resvala,
Protela, apavora,
Evita momentos,
Levita, devora,
Dilacera e erra
Grandes sentimentos.
Sou aquele sempre
Que se dói por dentro.

sábado, junho 09, 2007

Ele caminha
Ele corre
Ele tropeça
Ele sangra
Ele levanta
Ele caminha
Ele corre
Ele chora
e as lágrimas
que derramam seus olhos
misturam-se com
o sangue e com a chuva.
Os trovões confundem-se
com seus gritos.
Ele grita e não sabe por que
então ele grita mais alto
até ficar sem voz.
Ele grita por nada.
Por não saber por que gritar.
Ele grita porque tudo
lhe é um imenso vazio.
Ele sai de pés descalço para rua. Chove torrencialmente. Ninguém sabe para onde vai, nem mesmo ele. É uma procura infinita pelo nada. Ele procura achar nada. Ele sente seu peito comprimir cada dia mais. Ele não sabe o que faz. Ele não sabe viver, tudo que faz parece-lhe vão e nunca se está devidamente como se deve estar. As palavras que fala nunca são as certas para a ocasião. Os livros que lê parecem idiotas e procurar um emprego não tem sentido.
Ele caminha. Ele corre. Ele tropeça. Ele sangra. Ele levanta. Ele caminha. Ele corre. Ele chora e as lágrimas que derrama seus olhos misturam-se com o sangue e com a chuva. Os trovões confundem-se com seus gritos. Ele grita e não sabe por que então ele grita mais alto até ficar sem voz. Ele grita por nada. Por não saber por que gritar. Ele grita porque tudo lhe é um imenso vazio.

terça-feira, junho 05, 2007

Trago e solto lentamente a fumaça.
O cigarro me vitaliza.
A cada tragada é um suspirar
mais profundo que o outro,
um suspirar melancólico
e ao mesmo tempo apaixonado
pelo caminhar das gurias
do Campus do Vale.
O inverno ainda as faz mais
atraentes e misteriosas.
É um querer-saber-o-que-há-além-dos-blusões
que me deixa inquieto.
E seus passos parecem-me tão longe
como se eu estivesse assistindo TV.
direita-esquerda-direita-esquerda
câmera lenta.
mão que rasga
minha pele
minha carne
meus ossos
meus músculos
e expreme sem remorso
meu involuntário coração.
Minha vez de tomar o mate.
Havia esquecido de meus amigos.
Por instantes foram
apenas sons mudos
que adentravam
meus ouvidos
sem-significado-nem-significante.
Por instantes fora eu
o cigarro
a fumaça
o sol
o frio
e o caminhar
pseudodistante das gurias
do Campus do Vale.
Mas agora percebi
esses sons diáfanos
e o mate se faz companhia
à minha distante solitude
e o evaporar da água
se une à fumaça
do meu cigarro
num ritual
de acasalamento
e minha boca
meu peito
minha língua
queimam como
uma paixão qualquer.

terça-feira, maio 29, 2007

Alteio fogo
enleio, rogo
peço e me despeço
de ti
não que seja
assim tão fácil
é que não sei
ser de ninguém
e fico sempre
sozinho
doente
carente
no fim.
Não te quero
pra mim
mas estejas sempre
comigo
amigo
carinho
abrigo
abraço
essas coisas
ternas
eternas
paixão é jardim,
jasmim, rosas,
perfume
que viram
cactos
sempre apenas
sempre
me pegue
leve pela mão que
eu apenasmente
Eu te serei

XXX

Silêncio... não quero nada senão
Silêncio. Não há nada o que falar,
Não há nada que se possa explicar.
Tudo me é tão pouco, pequeno e vão.

Falar pra quê? silêncio pra mim basta.
Não há o que uma palavra possa
Dizer, querer que tudo seja bossa,
Enquanto tudo o que vejo se gasta.

Desejo, sim, estar sozinho ao léu,
E ouvindo o silêncio que ressoa,
Mudo assim como as estrelas no céu,

Admirar a vida que se escoa
Paulatinamente por entre os dedos,
Pele, olhos, dentes, insanos medos.
Tempo!
Pica
Bate
Não me
Mate
Inalcançável
Andei, cansei
E por ter andado
Demais
Quis ainda
Andar
Mais
Não tenho fé
Nem ilusões.
Tenho paixões
Arpões, maré.
Estou para o que vier.

sábado, maio 26, 2007

Dilema de Stechetti
Io sono un poeta o sono un imbecile?

sexta-feira, maio 25, 2007

Tenho saudade de um tempo
em que o tempo
não causava medo

Tempo em que
o tempo nem
sequer existia

O dia não era dia
e da noite
só se sabia a escuridão

O pensamento era silêncio
e o silêncio não se
tinha conhecimento

O único conhecimento
era o desconhecimento
do momento

Um tempo em
que a matéria
sonhava metafísica

segunda-feira, maio 21, 2007

Me aquece me esquece
Me solta me rouba

Me beija me deixa
me lambe meu sangue

Me gospe me engole
Me pisa me risca

Envista na vista
Da crista da onda

Me deixa uma pista
Arrisca que eu acho

Te mostro te gozo
Te deixo molhada

Te enrosco no nosso
Desleixo de tudo

E gosto do gosto
De não fazer nada

quinta-feira, maio 17, 2007

XXVI

Vim do nada e pro nada voltarei?
Fiz desse lugar a minha morada,
Nele vivi, sofri e também sonhei...
Agora só serei silêncio, nada?

Por toda eternidade dormirei?
Ou novamente serei despertado?
E despertado outra vez eu verei
Meu corpo aos poucos sendo exterminado?

Se são infinitos o tempo e o universo,
Por que eu também não poderei ser
Se eu estou neles todo o tempo imerso?

(Por que a incerteza desse viver
Nos oprime a fazer tantas perguntas?)
A vida e a morte andam sempre juntas?

quarta-feira, maio 16, 2007

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso metafísica
Nem medo da morte
Eu vim do barro

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso rotina,
Buzina, semáforo,
Nem mesmo quero carro

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso copo vazio
Nem vinho caro
Não quero sarro

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso dinheiro
Nem músculos inteiros
Eu escarro

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso estudo
Não preciso canudo
Não preciso cultura

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso companhia
Não preciso direção
Não preciso contra-mão

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso dia-a-dia
Não preciso tristeza
Nem angústia

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Olhando pro negrume
Infinito do
Céu claro

Tudo que eu preciso é
De um cigarro...

Não preciso metafísica
Nem medo da morte
Eu vim do barro

Tudo que eu é preciso é
De um cigarro...

...

sexta-feira, maio 11, 2007

Literatura de cordel

Na minha rua

A moça enfeitada
Bonita e cheirosa
De pele fogosa
E bem hidratada

Está no jardim
Cuidando das flores
Pensando em amores
Cheirando jasmim

E passa um mendigo
Cheinho de fome
Quase que ele some
Virado em umbigo

O rosto chupado
O corpo esguio
Está por um fio
À vida ligado

O mendigo triste
A olha do muro:
"Tu tem um pão duro
Ou mesmo um alpiste?

Nessa situação
Não tenho nariz
Me sinto feliz
Até com ração"

A moça bem braba
O olha com nojo:
"Tu aqui de novo
Na minha calçada?

Será que não é
Possível viver
Sem a choldra ter
Pegando em meu pé?"

Ele sai sem jeito
Sem nenhum rugido
Um choro contido
Um soco no peito

O sol bate forte
Na sua moleira
Não há o que mais queira
Do que a própria morte

Sentado na praça
Com os olhos molhados
Com dois namorados
Olhando a desgraça

A lágrima escorre
Lavando seu rosto
Ele está disposto
Suspira então morre

E a moça bonita
Já livre do fardo
Vai até seu quarto
Coloca uma fita

Um batom vermelho
Ela é engraçadinha
Fazendo boquinha
Diante do espelho

quinta-feira, maio 10, 2007

XXV

A dor que sinto não cabe num verso,
Não cabe nas palavras que eu escrevo,
Porém mesmo assim eu sempre me atrevo
Tentar expressar o meu universo.

Ah! Tristeza que estou sempre levando...
Inefável sofrimento que espera
Contido na garganta e desespera
Pobre em poesia no caderno em branco.

Ânsia de falar! Ânsia de gritar!
Desejo de expressar tudo o que sinto...
Tudo que está escondido e que minto,

Que sufoca em meu peito a soluçar
Num verso imensamente belo e triste:
Verso que talvez nem sequer existe.

segunda-feira, maio 07, 2007

XXIV

Uma dor infinda trago em meu peito
E que sufoca um grito na garganta,
Uma dor que se avizinha e levanta
Roxos de sofrimento no meu leito.

Dor que se alojou e que não tem jeito
De arrancá-la, porque ela se agiganta,
Forma raízes tao fortes, com tanta
Vontade, que eu já sem forças a aceito.

Aceito, e a tristeza me consome
A vida. Meus negros olhos não mais
Sabem chorar - são secos de tormento!

Ah! Intangível e torpe sofrimento!
Me sinto o sol que triste a noite traz,
Que no horizonte azul aos poucos some.

domingo, abril 29, 2007

XXII

Quero, ardo, choro e lentamente morro
Em teu corpo, em tuas curvas lascivas,
Teus olhos faiscantes, tuas cores vivas
E assim morrendo eu nem peço socorro.

Nem socorro, nem ajuda, nem nada.
Ardo em febre... a paixão em teu corpo
Convulso é como o astro rei absorto
Em minha cama que já está quebrada.

Sim, tu és o meu sol nestas noites frias...
Meu calor, minha vida, minha morte,
Meu caminho, meu cruzeiro, meu norte,

A energia de minhas mãos esguias,
O eterno infinito desse momento,
Tu és a vida... a vida que eu não entendo...

sexta-feira, abril 27, 2007

XXI

Por que bates tão freneticamente
Quando a vejo, estúpido? Tu não vês
Que esta minha súbita lividez
Vem do se sentir mais do que se sente?

E por que bates tão alegremente
Quando beijo seus lábios (e outra vez
Em seus lascivos olhos azuis crês)
Se depois ela parte indiferente?

Tu és inimigo de minha razão!
Tu és culpado de minha juventude
Senil e de meus olhos escarlate...

Mas quero que sofras também, então
Com as maiores forças que unir eu pude
Rogo a Deus para que eu morra de enfarte.

XX

Eu sempre calado,
De sorriso tácito,
De olhos enigmáticos
Faço da poesia

O meu cada dia:
Meu único estado,
Meu único mundo,
Meu grande universo:

O verso infinito,
Fecundo e inefável.
E de verso em verso

Busco o verso mudo,
O verso que escuro
Diz tanto de mim...

quarta-feira, abril 18, 2007

XVI

Da hipocrisia

Escondido em olhos, boca e cabelo,
Existe alguém gritando o desespero
De ser aquilo que não mais quer sê-lo,
Alguém que quer ser o que é por inteiro.

Escondido em unhas, pulsos e pêlo,
Existe alguém que sangrando desterro,
Num lugar que não sabe compreendê-lo
Clama que venha logo o seu enterro.

Escondido em sorriso e aplauso,
Existe o asco, o ódio, o desafeto
De alguém que só sabe ser quieto

Porque tudo lhe soa sempre falso...
Sendo assim vai levando sua vida
Escondido em veias, pele e ferida...

quinta-feira, março 29, 2007

XII

Quero, sim, teus beijos de turmalina
Com gosto mágico de chocolate
Quero molhado, quero de verdade
Tua boca confundida com a minha.

Quero sem pressa, bem devagarinho
Aproveitar a sombra desses plátanos
Beijar tua boca, mordendo teus lábios,
Falar ao teu ouvido bem baixinho:

"Queira-me como jamais quis ninguém
Pois te quero minha, só minha,
Fazer que tu te sintas muito além

Do pudor, da falsa moral, da linha
Que a tua cabeça ainda mantém
E tirar com os dentes tua calcinha."

terça-feira, março 20, 2007

XI

A Daniel Ramos - Pelo seu aniversário


Vai-se um ano, vão-se dois, vão-se trinta;
Vai-se o tempo, vai-se a vida, os amores;
Como trovão, vai-se o choro e as dores;
Tudo muda tal descascada tinta.

Vai-se um ano, vão-se dois, vão-se trinta;
Vai-se o sol, a chuva e também as flores;
Não importa o caminho por qual fores
Jamais encontrarás algo que não finda...

Vai-se um ano, vão-se dois, vão-se trinta;
Fica-se o fel dos inúmeros medos
Que a vida nos insiste em colocar!

Mas os medos convertem-se em segredos
E apenas num simples pestanejar
Vai-se um ano, vão-se dois, vão-se trinta...

sábado, março 17, 2007

X

Foste tenaz quimera cor do sol,
Foste luz mesmo sendo escuridão;
Feérica, roubou-me a ilusão
De um dia poder ser o pôr-do-sol.

Foste negra quando eras arrebol,
Deste amigos mas me eras solidão;
Onírica, rasgou-me o coração
Quando quis ser mais um rouxinol...

Feriu-me como não feriu ninguém,
Fez-me acreditar que existia o bem
Quando o bem se esvaia todo em lágrima.

Deixaste-me taciturno inquieto;
Adulto já, sentindo-me um feto,
Com os sonhos sendo apenas gelo magma...

terça-feira, fevereiro 20, 2007

VII

À Cristiane Bottega

Olhou para baixo e viu crianças com fome
Indiferente, agiu como se nada visse
Deus de ombros, recolheu-se, espriguiçou-se e disse:
Toda injustiça e dor é assunto dos homens.

De toda desgraça só faz tirar seu nome
Mas na agonia da morte, na idiotice
Da guerra, no som da metralhada, na Crise
Escuta-se a voz desse Deus que sempre some.

Morbida languidez!... Inóspita existência!...
O que pensaste ao ver a rosa de Hiroxima?
Acaso és infeliz com tua onisciência?

Misterioso protetor!... Pai de toda sina!...
Se tu és Deus do amor, da paz, de todo alento,
Por que razão criaste também sofrimento?