sexta-feira, julho 20, 2007

IL

"Corei de vergonha e de indignação:
Diabo de gente que fica na porta
Da padaria onde eu vou comprar pão,
Chorando moeda com cara de morta.

"Tem qualquer moedinha não me importa
O valor, tenho fome de leão."
Sabe, esse tipo de coisa me corta
De sobremaneira o meu coração.

Mas o que tenho eu com a desgraça alheia?
A gente apenas colhe o que semeia
É o que minha mãe sempre dizia."

Vinha desse jeito minha vó contando
Anelante e deveras triste quando
Chegara em casa no final do dia.

XLVIII

Morri. Encontrei o fim desta lida.
Sou pó, sou cinza, sou vento, sou nada,
Sou uma reles carta descartada
Do baralho intangível dessa vida.

Sou a ruína sempre incompreendida
Longe do corpo que me deu morada,
Sou a eterna vida rotulada
Na eternidade do vácuo esvaecida.

Sou todo o silêncio da escuridão
Que ressoa da morte do universo
Que outrora me deu da vida a centelha,

Sou a parte cabal dessa união:
Do grande nada a que estamos imerso,
Da infinita cala que nos espelha.