domingo, julho 12, 2015

A primeira lágrima
Brilhou nos olhos
Repentinamente,
Ofuscando a visão.
Não se encontra
Força para enxugá-la
E ela traça livre
O próprio caminho
Por entres as rugas
Do rosto franzido:

Não há razão nos sentidos:
Silêncio...
Silêncio e mais nada.
A lágrima chora deixando
Marca de amor
Na pele tocada e
Um rastro lúgubre
de lágrima
Rolada.

Ela acaricia o rosto
Com sofreguidão.
Beija a boca
Demoradamente.
Perde-se na vertigem
Daquela tristeza,
Traçando seu caminho
De lágrima solitária...

Chegando ao fim,
Agarra-se em desespero
Aos poros
Daquele rosto
Que lavou!
Apaixonada, sente
A morte iminente -
A morte iminente
De lágrima
Rolada -

Saudade dos olhos!
Saudade do beijo!
Saudade da pele
Que acariciou!

O rosto também a segura
Fortemente pelos átomos,
Enquanto lá em cima
Brilham lágrimas
Que não ofuscam...

Ela cai.
Tanto esforço vão.
Lá vai ela cumprir,
Abandonada,
O seu destino infeliz
de lágrima
Rolada.

Morrendo sobre o peito
Que lhe deu a vida.

Composição

Procuro no escuro
tudo o que é
e que seja:
que sempre foi

tateio no vento
as palavras
que não aprendi
a dizer

e quando perco
minhas forças
o corpo pende
os braços caem

e tudo o que
sempre foi
não é, nem será,
apenas está

e as palavras
que não aprendi
a dizer são
as únicas que existem

a poesia se esconde,
o sentimento não
sabe gritar
sua liberdade

o escuro torna-se
cada vez mais
escuro e escuro
e uma lágrima cai:

uma lágrima é a prova
da mudez da tristeza
e o silêncio, sim, sempre
foi, é e também será.
Morreu meu avô.
Velho e abatido.
Morreu aos 69 anos:
Culpa do cigarro.

Morreu de um câncer
Na garganta que o
Levou em pouco mais
De seis meses.

Lembrei disso por
Estar com um
Cigarro na mão agora,

No qual, esporadicamente,
Dou uma tragada:
Como é bom o morrer!

XVIII

Vou sem pressa cavando a sepultura
Onde meu corpo frio irá jazer
Quando ele deixar essa vida dura
E no descanso eterno ele viver

Pois não aguento mais tanta tortura
Sem gozar de um só dia de lazer
E de sol a sol minha pele escura
Não pára nunca mais de escurecer

Por isso peguei minha pá e cavei bem fundo
A cova demorou pra se aprontar
Pois meu corpo já estava morimbundo
E a terra era difícil de cavar

Mas agora partindo desse mundo
Eu nunca mais na vida hei de voltar.
Meu coração tem amores
que nem eu conheço
tem tantos segredos
queimando flores
tem desconhecidos horrores
que me enchem de medos
Meu coração tem dores
que nem eu sinto
tem cores
de vinho tinto
banhando com seu vermelho
o espelho
do meu sonho lindo
Meu coração de tanto sentir
sem saber que se sente
acabou indiferente
ao porvir:
de tanto mentir
sem saber que mente.
Em cada passo
que vai trilhando
o caminho que faço.
Sinto que passo.

E o meu luto
do tempo que morre
é cada minuto.
E eu não luto.

E permaneço mudo
sempre querendo
mudar tudo.
E nunca mudo.

Eu sinto que passo.
Mas não luto.
Mas não mudo.
Se é partido que se vai
Se é perdido que se vem
Como entrar nesse trem,
Pai?

Como a vida desse lírio
É bonito que se vem
Ressequido que se vai,
Filho.

Como a pergunta que se faz
A resposta que se tem
A morte se desfaz.

Se é sabido que se vai
Desconhecido por que se vem
Por que lutar também,
Pai?

Para que esse estribilho
Que na vida canta e voa
Ressoe em outros corações,
Filho.

Respira essa paisagem

porque quando perceberes

que estás de passagem

será tarde para teres

essa aragem

a teu dispor.



Respira com a dor

de despedi-la em breve

porque é leve

a tua vida.

Ligando os pontinhos um a um
Eu faço nas estrelas
O rosto dela
Costurado em alto relevo:

A lua se torna irrelevante.

XIX

Pássaros cantando canto de horror?
Eu os escuto, eles estão com medo.
Sim!... alguém descobriu-lhes o segredo
De não saberem mais cantar amor.

Agora, voa torto o beija-flor
De flor em flor não sabe mais voar
Parece que não mais sabe amar
E que de súbito encheu-se de dor...

O quero-quero não cuida seu ninho,
Nem o joão de barro da construção,
Nem mesmo a coruja da noite escura,

O pavão perdeu sua formosura,
E a garganta do rouxinol então
Foi atravessada por um espinho...