sexta-feira, agosto 31, 2007

Fazer a diferença?
Que é a diferença que
se faça se por aqui
tudo beira a desgraça?

Manter viva uma crença?
Que é crença que
se tenha se por aqui
tudo termina em nada?

Sentir de tudo o prazer
sem deus e sem futuro.
Viver como se fosse
uma grande mentira.

Porque tudo por aqui
tudo beira a desgraça
tudo por aqui tudo
tudo termina em nada.
Espero do cadáver que
hei de ser que tenha
a fisionomia de quem
sonha um sonho bom,
que seja frio mas de olhos
serenos e que o som
das lamúrias seja
transformado em canção
de ninar no eco
do seu infinito silêncio.

quarta-feira, agosto 29, 2007

A vida é um cachorro
tentando morder
o próprio rabo.
Viva a poesia
mas não a esquiva
a do dia-a-dia
a poesia viva!

Não ao que seria
a poesia altiva
puramente fria
com sua forma criva!

Não ao neo-parnaso
que brocha o sentido
por ser erudito!

Sinta o fato raso
o sígno límpido
sem suor, sem rito!

terça-feira, agosto 28, 2007

Gozar a solidão
em todos os sentidos
derramar em verso a
tristeza contida nos poros

E depois da infelicidade,
como a noite vira dia,
queimar no peito forte
um amor esquecido

Uivar a eternidade
para uma noiva morta
querendo conhecer
o que está encerrado

Não se ter a quem amar
ser sedento de feridas
as cicatrizes no meu rosto
são mais belas que um sorriso

Ao gozar a solidão
em todos os sentidos
e derramar em versos a
tristeza contido nos poros
Olhos rasos dágua:
O silêncio dos grilos
ensurdece a madrugada.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Queria que fosse
nós: tu e eu,
e que tivéssemos o apogeu
do que sentia.

Queria do que
foi verdadeiro
ser o cinzeiro
da minha parte fria.

Queria que
fosse esvaecido
o tempo perdido
da noite pro dia.

Queria que jamais
houvesse o que seria.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Invadem-se os mares,
também as fronteiras!
Caem-se os altares
e o pudor das freiras!

Esguicha-se o sangue
contido nas veias!
Abrem-se as cabeças
cobertas de teias!

Quebram-se as correntes
do mais forte aço!
Descalam-se as vozes
e ganham o espaço!

Os velhos algozes
não deixaram rastro.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Desconexo

Corro do tempo como
quem corresse da vida.
E a vida não me tem
razão que a sustente.

Se ainda fosse eu crente
poderia levantar as mãos
aos céus e dar glórias
a deus - mas isso me soa
muito mais como uma
velha despedida.

Caminho e me apresso
em conjunto, paro
no sinal vermelho
e atravesso as avenidas
na faixa de segurança
com o nó diário
cego na garganta
e sem ter onde depositar
minhas esperanças.

O dia vem recheado
de cores vivas com
suas nuanças refletindo
tão tristes nos meus olhos.

Meu olhar caído:
Naquela esquina teria
um castelo medieval
não fora a modernidade.

A menina de olhos claros
olha atentamente por
de trás das grades...
Grades com cerca elétrica.
Nem os passarinhos
arriscam seu canto
nas suas janelas na
manhã amarelada.
O dia seria lindo não
houvesse tanto medo.

Alguns quarteirões
a mais ou bem a menos
vê-se uma casa de
chão batido e úmido.
Seria um rio de águas
abundantes e límpidas
não fora o cheiro
acusando um esgoto
a céu aberto.
Os passarinhos cantam
nas janelas na manhã
sofrida e calada.
Cachorros latem, brigam
por uma cadela no cio.
Homens gritam, matam
por uma fêmea qualquer.
A orquestra da fome
faz seu show em todos
os tetos sem cobrar ingresso.
O dia seria lindo
não houvesse tanta miséria.

Então penso em comprar
um livro de auto-ajuda
para ver se me encontro.

Dizem que tenho que
traçar uma meta,
um caminho a ser
trilhado e superado.
Mas eu nunca sei onde
estou e o que fazer.
Só sei que ando
vivendo, indo.

Nada me é passado.
Nada me é futuro.
Só sei que tudo
me é gerúndio
e que amar não se conjuga.
Só sei que corro,
corro, corro, corro...

Corro do tempo como
quem corresse da vida
e a vida não me tem
razão que a sustente.