sexta-feira, maio 11, 2007

Literatura de cordel

Na minha rua

A moça enfeitada
Bonita e cheirosa
De pele fogosa
E bem hidratada

Está no jardim
Cuidando das flores
Pensando em amores
Cheirando jasmim

E passa um mendigo
Cheinho de fome
Quase que ele some
Virado em umbigo

O rosto chupado
O corpo esguio
Está por um fio
À vida ligado

O mendigo triste
A olha do muro:
"Tu tem um pão duro
Ou mesmo um alpiste?

Nessa situação
Não tenho nariz
Me sinto feliz
Até com ração"

A moça bem braba
O olha com nojo:
"Tu aqui de novo
Na minha calçada?

Será que não é
Possível viver
Sem a choldra ter
Pegando em meu pé?"

Ele sai sem jeito
Sem nenhum rugido
Um choro contido
Um soco no peito

O sol bate forte
Na sua moleira
Não há o que mais queira
Do que a própria morte

Sentado na praça
Com os olhos molhados
Com dois namorados
Olhando a desgraça

A lágrima escorre
Lavando seu rosto
Ele está disposto
Suspira então morre

E a moça bonita
Já livre do fardo
Vai até seu quarto
Coloca uma fita

Um batom vermelho
Ela é engraçadinha
Fazendo boquinha
Diante do espelho

2 comentários:

Anônimo disse...

se eu tivesse escrito essa poesia já me faria contente e plenamente satisfeito como escritor.

lindo.

Gabriela Schwingel disse...

Cantas as verdades com maestria.