sábado, abril 06, 2024

Cada qual em cada canto
canta o mesmo canto
a diferença
de cada crença
é mera semelhança.

A vida é a mesma
a chuva é a mesma
o solo o sol
são os mesmos
o que difere
fere

A sentelha inata
que nos desperta
que nos mata
repete em cada ser
a incompreensão do viver.

E qualquer diferença é mera semelhança.
Com os olhos
irados mirados
para mim disse:
te conheço desde sempre.
Dei dois passos
para trás confuso das idéias
e desapareceu repentinamente.

Acordei morto
no dia seguinte
com uma garrafa
de vodka na mão.
eu soube da minha
condição de alma
porque não enchergava
meu corpo.
Só sabia que estava ali
e nem sequer imaginava
como sabia.
A garrafa de vodka
me disseram depois
que era por causa do
apego demasiado
que eu tinha às
coisas terrenas,
mas eu me acostumei
e hoje ando
pelo mundo de minhas idéias
só com um copinho
de uísque.
Romper os grilhões da mente
Rebentar as correntes dos sermões
Levantar quando se está doente
E assaltar o bando de ladrões

Enxergar com a encilha a sua frente
Colher a semente dos leões
Entrar no mundo dos dementes
Concertando a espuma dos colchões

Recolher na chuva o pôr-do-sol
Lutar de cabeça baixa contra lua
Beber a água impura dos grandes lagos

Jogar de pés descalço futebol
Gritar gol no meio da rua
E festejar o dadá consciente dos gagos.

Busca

Deixei a barba crescer
e o cabelo também.
Esqueci a monogamia
do sol e sem pensar
admirava a promiscuidade
da lua...

Minha mãe perguntava,
Cadê meu filho?
E eu respondia,
Foi plantar milho.

Ela não entendia
a resposta e eu
tampouco a pergunta.
Mas comecei a fazer poesia:

Gostava das rimas ricas
com meus cabelos emaranhados,
contava a métrica
de cada verso
no meu quarto bagunçado,
compunha sonetos
nos cigarros apagados.

Todos olhavam com
tamanha surpresa
a minha estranheza.

Perguntavam uníssono,
Cadê o Tiago?
E eu respondia,
Foi pro diabo.

Ficavam todos estupefatos,
e eu na minha estreiteza
ia pro meu quarto
compor decassílabos
sáficos.

Firmei laços com
as traças das
prateleiras e gritando
nas ruas me abalei
sem eira nem beira.

Mas quando me olhei
no espelho exclamei,
O que é isso, um eco
respondeu, É falta
de juízo.

Então cortei o cabelo,
fiz a barba,
tomei um banho,
escovei os dentes,
queimei minha poesia
de concreto.

Deixei de plantar milho
e de fazer companhia
ao diabo num estalo:

Hoje em dia tenho uma namorada,
Tenho uma reputação a zelar,
Frequento toda sexta-feira um bar,
Mas bebo pouco pra pegar a estrada.

Creio em deus, na propriedade privada
E na moral que costumam pregar.
Sei que com dois posso fazer um par
E não preciso mais saber de nada.

Minha mãe me gosta assim desse jeito,
Se orgulha de me ver ser repetido,
E agora sou um homem de respeito.

E o que num tempo eu fui, foi esquecido:
Hoje eu uso gravata, eu uso terno,
Porque hoje em dia eu me faço moderno.

VIII

Vai mais um dia rápido como um relâmpago
E eu me vejo de novo tentando dormir
A vida vai passando e encurtando o porvir
Enquanto eu me sinto velho cá em meu âmago.

Mas sou jovem ainda, tenho dezenove
Anos! Por que me sinto velho de repente?
Um corte bestial se vai rasgando meu ventre.
A vida é um punhal que me apresenta à morte!

A morte diz: " Vou te levar para um lugar
Onde a jovem velhice se sinta bem.
Os dias passam e tu não vais te preocupar."

(Acordo num salto) Ouço vozes pelos cantos.
Os sussurros misturam-se atrozes aos meus prantos:
"Carpe Diem... Carpe Diem... Carpe Diem... Carpe Diem..."