domingo, abril 29, 2007

XXII

Quero, ardo, choro e lentamente morro
Em teu corpo, em tuas curvas lascivas,
Teus olhos faiscantes, tuas cores vivas
E assim morrendo eu nem peço socorro.

Nem socorro, nem ajuda, nem nada.
Ardo em febre... a paixão em teu corpo
Convulso é como o astro rei absorto
Em minha cama que já está quebrada.

Sim, tu és o meu sol nestas noites frias...
Meu calor, minha vida, minha morte,
Meu caminho, meu cruzeiro, meu norte,

A energia de minhas mãos esguias,
O eterno infinito desse momento,
Tu és a vida... a vida que eu não entendo...

sexta-feira, abril 27, 2007

XXI

Por que bates tão freneticamente
Quando a vejo, estúpido? Tu não vês
Que esta minha súbita lividez
Vem do se sentir mais do que se sente?

E por que bates tão alegremente
Quando beijo seus lábios (e outra vez
Em seus lascivos olhos azuis crês)
Se depois ela parte indiferente?

Tu és inimigo de minha razão!
Tu és culpado de minha juventude
Senil e de meus olhos escarlate...

Mas quero que sofras também, então
Com as maiores forças que unir eu pude
Rogo a Deus para que eu morra de enfarte.

XX

Eu sempre calado,
De sorriso tácito,
De olhos enigmáticos
Faço da poesia

O meu cada dia:
Meu único estado,
Meu único mundo,
Meu grande universo:

O verso infinito,
Fecundo e inefável.
E de verso em verso

Busco o verso mudo,
O verso que escuro
Diz tanto de mim...

quarta-feira, abril 18, 2007

XVI

Da hipocrisia

Escondido em olhos, boca e cabelo,
Existe alguém gritando o desespero
De ser aquilo que não mais quer sê-lo,
Alguém que quer ser o que é por inteiro.

Escondido em unhas, pulsos e pêlo,
Existe alguém que sangrando desterro,
Num lugar que não sabe compreendê-lo
Clama que venha logo o seu enterro.

Escondido em sorriso e aplauso,
Existe o asco, o ódio, o desafeto
De alguém que só sabe ser quieto

Porque tudo lhe soa sempre falso...
Sendo assim vai levando sua vida
Escondido em veias, pele e ferida...